terça-feira, 31 de maio de 2011

AVISO.

A noite passada não terminou.
Todo seu fardo, todo seu medo
restou em um eterno pesadelo.
De mim, sei que não há segredo.


Ainda pareço sentir o gosto de tudo
e de nada se parece livrar o corpo.
Busco sair, nunca fui sortudo,
fogo e espadas encontro. Absurdo.


Este corpo nem parece meu.
Esta mente parece lutar
para abandonar o que morreu...
estou em um eterno bocejar!


As cores, os sons, os sabores.
Tudo intenso, misturado a findar.
Crenças e teorias, tantos atores...
Estará na hora de abandonar?

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Meu prazer.

Desfazes de meu humor
com teus disfarces sutis
e teus carinhos sem pudor,
sem medidas, cheios de ardis.


És a própria imaginação
de minha mente confusa
que busca na multidão
a existência profusa!


És minha doce ilusão
E obsessão incessante
que me toma na tensão
das horas fugazes e delirantes...


És minha doce morte
que me saudou em meu nascer
És minha vida enferma
que se despediu ao me conceber...


És a que busco na corrida
dos meus dias inglórios
És a que encontro no rastejar
das minhas noites exitosas...


Escandalizas meu ser e sua existência,
fazes de mim o que tens de fazer,
cumpres sempre o que tua essência
de lascívia dá-se a pretender.


Se me prometes algo de secreto
é que nada posso esperar
das horas que teimam em vagar,
nem dos dias inquietos.


Só me tomas a teu deleite
que por sorte ou azar
nasceu de tal cimento ou azeite
que minha fome é o teu desfrutar.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Disfarces

Enquanto te desfazes das roupas
e eu me desfaço em desejo
disfarças que estás louca
e eu faço que não te vejo.


Não te vejo contorcer o corpo,
a cintura levemente inclinar
e os teus seios arfar.
Finjo que estou absorto.


Eis o jogo que perco
porque quando te afastas,
sem relutar eu te cerco.


Cercando, te enlaço.
Alegro-me na derrota
e em teu corpo me desfaço!

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Canta cotovia!

Minha cantante cotovia,
errante de minha vida
e de meus prazeres, querida
por onde andas, minha alegria?

Não me deixes sem te ouvir
cantar meu nome em alto som
porque não me comprazo sem ti
e minha vida é nada sem teu tom.

Dá-me logo a graça
de ouvi-la em meu nome
se deleitar em gozo que não passa
gritar, em fogo que não se consome.

Deleito-me em teu grito
tomada de assalto por ondas
de prazer e deleite restrito
que te permites e estrondas.

Anda, faça-se minha!
Então encha de sons, meus ouvidos
cansados da vida igual e mesquinha
darão à sua rainha, o trono prometido!

quarta-feira, 11 de maio de 2011

RESUMO

Céu nublado,
manhã chuvosa,
lençol amassado,
preguiça manhosa.


Marcador digital,
tempo correndo,
alarme pontual,
corpo amolecendo.


Sono lutando,
pensamentos chegando,
compromissos gritando,
inferno esperando!


Espera massante,
trânsito louco,
papo intinerante,
demora pouco.


Que bom se o mundo
fosse mais profundo
e nossas queixas resumidas
em poucas linhas reunidas!

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Pescas, não pecas.

01-Amanhã se o sol insistir em nos acordar
02-Entrega-o a seu ciúme e inveja
01-o dia inteiro, deixa-o queimar.
03-À noite teremos, inteira a lua
02-para que nos abrace e nos veja.

04-A disposição que me invade
05-sufoco-a entre teus beijos.
06-Mais uma vez não a deixo partir
03-sinto quanto tua pele nua
06-arde e me perco em teus lábios carmim.

07-Entre teus cabelos escuros
08-e tua pele clara, desnorteio
07-e desfaleço-me derrubando os muros,
03-e toda minha dureza crua
08-transforma-se em doce devaneio.

09-Se as estrelas confundem
10-e os lençois teimam em nos deixar,
09-desdenha deste momento. É miragem.
03-É ilusão solta que atua
10-e não se pode considerar!

11-És a realeza desta noite
12-e tens toda minha servidão
11-Se te lanço em açoite
03-É que preso à lança tua
12-fui colhido por teu arpão.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Perdeste

1-Não me provoca com tua intimidade secreta,
2-não me destina ao fardo da idade nem ao tempo,
3-não me esqueça no limbo de tua memória
1-pois quem não sabe o que segreda,
2-não sabe onde mora seu contentamento,
3-não saberá contar sua história.

4-Eu apenas olho tua face clara
5-e imagino o restante de tua pessoa
6-e tento esquecer de mim em qualquer canto.
4-Assim espero entender tua beleza rara,
5-assim tento ouvir o canto que entoas
6-assim o lamento vai-se embora com o pranto.

7-Saberás traduzir o que te conto
8-se fizeres como fiz e quero que faças
9-se me tomares como se fosse parte tua,
7-quando te isolares e repousares em teu canto
8-quando me entoares e encontrares tua graça
9-quando se sentires e ficares completamente nua.

10-Eu não te roubarei do lar
11-Eu não te deixarei em paz
12-eu não te deixarei os pensamentos
10-porque não te quero ver chorar
11-porque te persegui assaz
12-porque estou em teus lamentos.

13-Estás a lamentar o que não perdeste,
14-mas jogaste fora por desdém
15-ou simplesmente não tivestes mãos
13-para segurar como se não merecesses
14-a felicidade de ser una com teu bem.
15-Não adianta chorar nossa perdição!

terça-feira, 3 de maio de 2011

Chama virtual

1- Teu canto incomoda
2- minha inerte carne
3- e tua voz alcança
0- meu canto mais remoto,
1- meu instinto remoça,
2- meu humor se parte
3- e meu desejo avança.

1- Teu gosto incendeia
2- minha saliva que testa
3- tua pele e calor
0- teu prazer e desejo postos
1- e gosto de ver tua teia
2- armada para a festa
3- que pretendes para o amor...

1- Essa noite pode ser nossa
2- e ainda pode por muitas vezes
3- ser repetida na memória,
0- e sentida em nossos corpos
1- mas se o dia trouxer a fossa
2- é só tirar tua vestes
3- e repetir nossa história.

1- Não me encantes pensando
2- que ouço, sou surdo quase sempre,
3- mas sou atento a tudo de ti
0- que careça sofregamente de algo meu.
1- não te deixarei esperando.
2- Este desejo que te vê na mente,
3- tateia-te na certeza de estares aqui!

1- Como podes desvirtuar
2- quem sequer clama virtude?
3- Roga o carinho de tua voz
0- e a doçura do teu toque
1- nas penumbras imaginar
2- corpos na inquietude
3- apertando-se em vituais nós!

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Dispenso-te

Pega teu amor e toda tua disfarçatez
Assuma tua dor e viaja agora.
Veja se tua vida repleta de acidez
esquece da minha e vai embora.

Ela que vá embora com tua carcaça
Com tua boca imunda e grave
que se não se amolda, não se disfarça
em flores, mas em arbustos e entraves.


Esgueira-te e deixa-me só
Prefiro minha vida incerta
do que te ver revirando meu pó.


Como se tudo que eu fosse
pudesse estar nas linhas retas
e na ausência de tosse.